Rancho Típico de Pombal
Desde 1951 que temos andado a divulgar as danças, os cantares, os usos e os costumes de uma região, toda ela enraizada, em termos etnográficos, na Alta Estremadura.
Somos, assim, de uma parcela de este nosso Portugal, metida entre Leiria e Coimbra, quase fronteira entre viveres tão próximos e tão distintos, com usos e costumes, danças e cantares tão diferenciados. E corroborando as doutas palavras do Amigo nunca esquecido, Dr. Pedro Homem de Mello, permitimo-nos relembrar de uma obra sua: “Fronteira folclórica (repetimo-lo de uma vez para sempre), Pombal representa, irrefutavelmente, a chave que nos abre as portas da coreografia do Sul...”.
Lá dos lados do nascente, a vetusta serra da Sicó. E, para poente, esse mar salgado que, ritmada e continuadamente, vem beijando os areais que são nossos, essas praias virgens que desde sempre vêm ansiando por serem praias em pleno. E o Sul? São as freguesias de Vermoil e das Meirinhas. Lá fomos recolher os nossos primitivos trajos e os primeiros cantares, as primeiras danças. E para Norte fica a Redinha, histórica, cheia de romanas reminiscências. E, olhando de novo aquela Serra, parede-mestra natural, sentimos pulsar para lá dela, mas bem pertinho de nós, a velhinha Abiul, cheia também ela de tradições, rica de património secular. Nessa Abiul recolhemos então outro modo de trajar, outros cantares, outras danças.
Andámos por Vale Rodrigo, pelos Zambujais, pelas Fontaínhas. Riqueza recolhida, abalámos para a vizinha Vila Cã. E foi um continuar de continuada tarefa. Regressados à nossa terra de origem, demos uma saltinha à Charneca tão chegada e fomos até às Ranhas. Quase que completávamos o nosso património em danças e cantares, em trajos, não fora uma urgente vontade de renovar; e é esta ainda vontade que nos leva a fazer uma ou outra ida ali ou além em busca na verdade do trajar, no cantar, no dançar. E sempre conscientes que estamos no bom caminho, sempre e ainda de darmos verdade aos nossos propósitos.
E aqui estamos, RANCHO TÍPICO DE POMBAL, lídimo representante do folclore desta velha região estremanha quer por natureza, quer pelo coração e por aquilo que somos. E os anos já vividos têm sido anos de trabalho, de sacrifícios, de tristezas e alegrias, de altos e baixos, de crises, de revitalizadas e pujantes euforias. Gerações e gerações que por aqui passaram, pares que cruzaram as mãos nos altares por vivências aqui nascidas e os continuadores de hoje, certos de um historial que é parte integrante da própria história de Pombal no seu todo, as suas gentes, os seus usos, os seus costumes, são inequívoco testemunho da sua vitalidade, de assegurar a seu modo a mantença de um nome e de assumida responsabilidade de se prosseguir em verdade pelos anos que hão-de vir.
Percorremos quase de lés-a-lés este nosso cantinho à beira-mar plantado. E do continente passamos à cata da Ilha da Madeira que esquadrinhámos o que pudemos e nos foi facilitado. Depois veio S. Miguel açoriana. Sediados na cidade de Ponta Delgada, dali partíamos nas mais diversas direcções e de tudo que vimos e vivemos, das lembranças que trouxemos, das gentes que nos viram e ouviram, com as quais convivemos, das emoções sentidas, ficaram-nos bem cá dentro de nós momentos e gestos inapagáveis; e, nos nossos olhos deslumbrados, belezas sem par, fascínios de uma natureza ímpar e fecunda. Daquela Ilha da Madeira que deixámos lá para trás, o mesmo comentário, a mesma saudade. E andámos por Espanha, França, Alemanha e Suíça em jornadas inesquecíveis. Mas cá dentro, aonde forçosamente temos que ser a corpo inteiro, estivemos nos grandes festivais de folclore: Santa Marta de Portuzelo, S. Torcato, Meadela, Santarém, Algarve, eu sei lá...tantos outros. E quanto a realizações nossas intramuros, continuamos a organizar de longa data os Festivais de Folclore integrados nas nossas tradicionais Festas do Bodo. E realizamos também alguns Festivais chamados da Primavera e em colaboração com a Câmara Municipal.
Seis discos gravados. Seis actuações na RTP...ainda quando havia na TV programas sobre Folclore sob a batuta do já aqui recordado Dr. Pedro Homem de Mello. E fomos o primeiro Rancho a atuar na mesma Radiotelevisão ainda quando em regimes experimental e com as emissões transmitidas da Feira Popular de Lisboa. E acrescentamos: presença na R.T.P.I. a 23 de Agosto de 98 e participação num dos programas da rubrica Portugal Português (TVI).
Somos MEDALHA DE PRATA DE MÉRITO MUNICIPAL e fomos honrados toponimicamente: temos o nosso nome numa das ruas desta cidade. Somos fundadores da nossa Federação do Folclore Português e ajudámos a fundar a Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura. Fomos Vice-presidente da Direção, Presidente da Assembleia Geral e Secretários da Assembleia Geral, cargos que já se repetiram.
Quanto a Trajos: de trabalho (homens e mulheres), domingueiros (homens e mulheres), ricos (também homens e mulheres). Quanto a noivos: ambos os trajos de noivos remediados. A Tocata é constituída por acordeões, violas, ferrinhos, reco-reco. Quanto ao nosso dançar é este a ter por base três características fundamentais e conjugantes: RODOPIO, RODÍZIO e MARCADINHO. Tudo isto e as letras que se cantam e o modo como se entrelaçam fazem com que o nosso RANCHO TÍPICO DE POMBAL tenha, entre os melhores do nosso país, jus a um lugar cimeiro onde a verdade folclórica se patenteia e daí a aceitação plena de quem o vê atuar.
Tem sido nosso lema honrar o nome de Pombal e procurar corresponder ao que nos é imposto pelas raízes dos nossos usos e costumes, danças e cantares. Com um poucochinho de vaidade que não nos pode ficar mal, afirmamos que temos cumprido o nosso dever.